No dia 19 de janeiro, eu dei uma longa entrevista à equipe de Marketing da Alfa Real, na qual falei sobre os resultados do mercado de seguros no ano passado e as expectativas para este ano, além de mostrar como a Alfa Real investiu fortemente em sua infraestrutura para implementar sua estratégia de crescimento.
Também abordei o papel do corretor diante do processo de informatização do mercado (máquinas, sistemas, inteligência artificial…) e importância do Seguro Garantia para o mercado – o qual esperamos que saia fortalecido quando da aprovação da nova lei que trata de licitações e contratos da administração pública. A entrevista toca, ainda, em questões culturais que afetam a contratação de seguros diversos pelas empresas em geral, especialmente as PMEs – como os empresariais e os que cobrem catástrofes naturais e ataques cibernéticos.
Como foi o ano de 2017 para o mercado de seguros?
Os números ainda não estão totalmente fechados, mas já sabemos que o mercado cresceu mais do que a inflação – embora seja preciso considerar que tivemos a inflação mais baixa dos últimos 29 anos. A taxa estimada de crescimento como um todo é de 5% a 6%. No caso dos produtos do portfólio da Alfa Real, alguns ramos devem ter um desempenho pior, como o Seguro Empresarial (isso faz sentido, pois, por uma questão também de cultura, as pequenas e médias empresas tendem a economizar nessa área em momentos de crise). Outros devem fechar o ano bem, como o Seguro de Crédito, pois o empresariado precisa se proteger da inadimplência, o Seguro Garantia Judicial (demandas nas áreas trabalhista, tributária e cível) e o Seguro de Responsabilidade Civil de Gestão (influenciado pela Lava Jato).
Quanto a 2018, quais as perspectivas para o mercado e especificamente para a Alfa Real?
O PIB brasileiro deve crescer entre 3% e 4%. Já o mercado de seguros espera crescer o dobro disso. A expectativa é termos índices melhores a partir de 2019. No entanto, há sempre os riscos decorrentes da instabilidade do cenário político brasileiro.
No caso da Alfa Real, nossa meta é bem mais ambiciosa. Em 2017, nosso foco foi na nossa infraestrutura interna – o que incluiu a mudança da nossa sede e melhorias em TI e em processos administrativos, financeiros e de recursos humanos. Agora, estamos prontos para implantar a nossa estratégia de crescimento, o que inclui um agressivo plano de ações visando à captação de novos clientes em mercados que consideramos prioritários, como energia, petróleo e gás, portos, aeroportos, rodovias, concessões e construções de navios, os quais têm uma fantástica cadeia de fornecedores. Nosso carro-chefe continuará sendo o Seguro Garantia, mas sem perder de vista as demais soluções (produtos e serviços) que compõem o nosso portfólio. Eu acredito que temos grandes chances de dobrar o tamanho da empresa de forma vegetativa em um período de até três anos. Também consideramos a possibilidade de adquirir pequenas corretoras cuja atividade tenha sinergia com o nosso negócio.
O papel dos corretores de seguros tem sido muito discutido atualmente devido ao forte processo de informatização desse mercado. Qual a sua opinião sobre isso?
Primeiramente, trata-se de uma relação de confiança, a qual não existe com uma máquina ou um sistema. Eu preciso confiar na pessoa que me ajudará a desenvolver e implantar, ao longo dos anos, o meu planejamento de proteção patrimonial e familiar. É o meu futuro e o da minha família que está em jogo!
Além disso, há a questão do conhecimento técnico. Uma coisa é você entrar no site de uma seguradora para contratar um plano de previdência privada e preencher os campos de um formulário. Outra coisa é fazer um planejamento estrutural que considere as minhas despesas a partir dos 65 anos (por exemplo, onde e com quem estarei morando, o que eu gostaria de fazer… Isso é algo que exige conhecimento técnico – não basta marcar com um X. Embora as seguradoras já estejam trabalhando com inteligência artificial (com métricas de decisão para robôs), o conhecimento técnico e a abordagem humana são os grandes diferenciais competitivos do corretor. Nós temos que nos capacitar continuamente para sempre oferecer ao cliente a melhor solução.
Num artigo escrito no ano passado, você falou da importância do Seguro Garantia para o setor de infraestrutura, mas coloca que ele não será a tábua de salvação. Essa ainda é a sua visão?
Esse seguro é muito utilizado em licitações e contratos da administração pública nas esferas federal, estadual e municipal. A revisão da lei que trata desse tema está sendo discutida há alguns anos, mas ainda não temos a versão final. Um dos motivos é que o governo e o mercado ainda não chegaram a um consenso em relação a alguns pontos críticos. Por exemplo, o governo quer transferir para a seguradora a responsabilidade de fiscalizar a obra – e não é assim em nenhum lugar do mundo. A responsabilidade de fiscalizar é de quem a está contratando! Mas estamos avançando na nossa discussão com deputados e senadores. Nosso objetivo é que a lei viabilize um Seguro Garantia realístico e compatível com o que o mercado pode entregar e que contribua para garantir a entrega de obras e serviços previstos.
As PMEs tiveram um crescimento expressivo na última década, mas é sabido que a grande maioria não está coberta por seguros essenciais. Quais são os principais riscos a que elas estão expostas?
Roubo, incêndio, raio, dano elétrico, acidente em que um carro invada o estabelecimento… A lista é grande. Basta um sinistro desse tipo para comprometer seriamente a sobrevivência dessas empresas.
Como o mercado de seguros tem trabalhado para ajudar a mudar essa cultura?
Eu acredito que isso começa com o compartilhamento de informações sobre o tema. Por exemplo, já existe uma proposta para que a ANSP (Academia Nacional de Seguros e Previdência) e a Escola Nacional de Seguros trabalhem junto com o Sebrae nesse sentido. A ideia é incorporar módulos sobre gestão de riscos e seguros aos treinamentos daquela entidade.
Com isso, capacita-se o pequeno e médio empreendedor para gerir a empresa como um todo, incluindo os riscos acidentais a que esteja exposta. A ideia é contribuir para a redução da mortalidade dessas empresas por não serem capazes de arcar com os prejuízos decorrentes de um sinistro que impacte significativamente o seu negócio.
Falando um pouco mais sobre o impacto de questões culturais no mercado de seguros, as empresas brasileiras ainda não se protegem devidamente contra os riscos decorrentes de catástrofes naturais. É possível mudar isso?
Trata-se de um processo lento. Nos países em que as catástrofes naturais são mais recorrentes, a população incorpora naturalmente essa necessidade, como nos Estados Unidos. No caso do Brasil, onde, felizmente, essas catástrofes não são recorrentes, uma minoria das pessoas e/ou empresas contrata seguros para proteger seus bens. O problema é que, se acontecer algo, a maioria dos atingidos não conseguirá arcar com as despesas decorrentes da reposição do que foi danificado/perdido.
E como está a conscientização das empresas quanto à necessidade de proteger as suas informações de ataques cibernéticos?
As grandes corporações já estão convencidas de que precisam estar preparadas para mitigar os prejuízos trazidos pelo avanço dos hackers. No entanto, isso ainda não vale para as PMEs – as quais respondem por 80 a 90% das empresas brasileiras. Entre elas, o caminho da conscientização ainda será muito longo. Basta considerar que a maioria delas não compra nem seguro contra roubo e incêndio. Como esperar que se protejam de ataques cibernéticos?